segunda-feira, 19 de maio de 2008

O petróleo e a ordem mundial


A revista Newsweek da semana passada publicou em sua página 4 comentário de John Sparks e Stefan Theil sobre um possível cenário de quando o petróleo alcançar o preço de U$200/barril. Além do uso político dos lucros obtidos por parte de governos autoritários em grandes países produtores de petróleo, os autores indicam que a tese do "mundo plano", de Milton Friedman, poderia estar perto do fim. De acordo com essa teoria, a competição entre países desenvolvidos e em desenvolvimento está acabando, pois ambos teriam as mesmas oportunidades.

Num cenário onde o preço do barril de petróleo atinja a marca de U$200, os custos de transporte e energia tornariam inviável a produção de bens em países distantes dos grandes mercados consumidores. Assim, bens produzidos na China terão de ser majoritariamente vendidos na Ásia para que se mantenha a competividade desses produtos; os EUA terão de obter seus produtos no próprio continente americano, caso queira manter seu atual padrão de consumo.

As análises sobre o sistema internacional têm de ser constantemente reformuladas. Teóricos e estrategistas, ao desenvolverem suas idéias, tendem a analisar o processo apenas de maneira evolutiva. Mas o mundo não é lógico. Ou talvez seja, mas nós ainda não estamos acostumados em analisar todas as variáveis possíveis e (in)imagináveis. Não é por acaso que o mundo assiste, perplexo, à alta dos preços dos alimentos no comércio internacional.

As teses desenvolvidas pela CEPAL, durante a década de 1950, indicavam que haveria deterioração dos termos de troca entre os produtos exportados pelos países periféricos (matérias-primas) e entre aqueles importados dos países centrais (bens industriais). A solução para os países latino-americanos seria a substituição de suas importações, criando incentivos para o desenvolvimento da indústria nacional.

Passado mais de meio século, os bens industrializados são hoje os que relativamente vêm deteriorando em relação às matérias-primas. O preço dos alimentos e dos insumos tem registrado aumentos constantes nos últimos anos. Já os preços dos bens industrializados só tendem a cair, devido, em grande parte, aos avanços tecnológicos. Basta imaginar quanto custava um aparelho de DVD ou um celular há 10 anos. A boa notícia para as indústrias é que, para anular esse efeito, novas tecnologias são desenvolvidas diariamente, criando e impondo novas necessidades aos consumidores.

Veremos se o fim do "mundo plano" realmente ocorrerá. Provavelmente não, pois creio que a criatividade humana conseguirá manter, e mesmo acelerar, o atual processo de globalização. Talvez, no entanto, seja necessário atravessar um período de ajuste, em que as previsões de Sparks e Theil possam se concretizar, mesmo que temporariamente.

Um comentário:

Raffer disse...

Bem vindo à blogosfera, Leo! Abração.