sábado, 16 de agosto de 2008

Saudade de Caymmi

Saudade da Bahia

Saudade da Bahia

(Dorival Caymmi)

Ai, ai que saudade eu tenho da Bahia
Ai, se eu escutasse o que mamãe dizia
"Bem, não vá deixar a sua mãe aflita
A gente faz o que o coração dita
Mas esse mundo é feito de maldade e ilusão"
Ai, se eu escutasse hoje não sofria
Ai, esta saudade dentro do meu peito
Ai, se ter saudade é ter algum defeito
Eu pelo menos, mereço o direito
De ter alguém com quem eu possa me confessar
Ponha-se no meu lugar
E veja como sofre um homem infeliz
Que teve que desabafar
Dizendo a todo mundo o que ninguém diz
Vejam que situação
E vejam como sofre um pobre coração
Pobre de quem acretida
Na glória e no dinheiro para ser feliz


Obrigado, Caymmi!




segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Fuso trocado

Os atletas olímpicos começam a competir em Pequim, e nós, aqui no Brasil, estamos nos preparando para dormir. A diferença de 11 horas entre Brasília e Pequim é realmente muito grande, mas percebi que essa diferença é mais significativa quando estamos 11 horas na frente, e não 11 horas atrás.

Nesse momento, enquanto escrevo, Phelps prepara-se para pular na piscina e conquistar mais uma medalha de ouro na natação. Mesmo que eu não agüente ficar acordado até tarde para conferir novo recorde olímpico ser alcançado, amanhã de manhã, ao ligar a TV ou ao acessar qualquer site de notícias na Internet, poderei ver a nova marca de Phelps. Enquanto durmo, o tempo não pára.

No entanto, com o fuso de -11h, o passado parece imperar. Imagine acordar às 9h da manhã de uma terça-feira, ligar a TV, e ver notícias ao vivo de segunda-feira, vindas do outro lado do mundo! É muito estranho, parece que o mundo está girando no sentido anti-horário. Isso ficou muito claro para mim no ano novo de 2007 para 2008, quando ainda estava em Pequim. Comemorei a chegada do novo ano, dormi e acordei na manhã seguinte. Fiquei com preguiça de descer para tomar café da manhã, e decidi ficar no quarto mesmo, vendo as notícias na CNN. Eis que, às 10h em Pequim (era horário de verão no Brasil), assisti AO VIVO aos fogos de artifício na praia de Copacabana. Era o passado, passando ao vivo pela TV a cabo...

domingo, 13 de julho de 2008

Efeito colateral


Nós, brasileiros, estamos tendo de mudar nossos hábitos sociais para nos adaptarmos à nova Lei Seca, que proíbe motoristas de dirigirem após terem ingerido bebida alcóolica, mesmo que em quantidades mínimas. O alto valor da multa e a possibilidade de perder-se a carteira de habilitação, além da chance de acordar vendo o sol quadrado, já chegaram a reduzir os acidentes de trânsito em até 40% em algumas capitais brasileiras. Mas, como a bebida alcóolica faz parte do ritual social de grande parte dos brasileiros, já consigo ver um efeito colateral decorrente da Lei Seca.

Quando alguém é escolhido o "amigo da vez", ele não pode beber e, além disso, ainda é obrigado a levar TODOS os amigos bêbados para a casa. A ênfase no pronome não foi por acaso. Quando alguém tem a sorte de não ser o "amigo da vez", sente-se na obrigação de beber, não socialmente, mas de enche a cara, só por não estar dirigindo. Nessa ocasião, beber até cair vira quase que uma questão de honra. Afinal, na próxima saída, pode ser que ele seja escolhido o "amigo da vez"... Com isso, a tendência é o aumento de casos de comas alcóolicos nos atendimentos emergenciais de hospitais. Corre-se o risco de faltar glicose no sistema de saúde brasileiro!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Homogeneidade

A população mundial está ficando cada vez mais fisicamente homogênea. O processo de globalização, com o avanço das técnicas de comunicação e de transporte, tem facilitado as migrações internacionais intercontinentais. E parece que o preconceito contra o estrangeiro está cada vez menos presente, apesar de ainda ser possível apontar vários casos isolados de intolerância contra o "outro". Mas a verdade é que a miscigenação entre os povos está cada vez mais superando os casais formados por indivíduos do mesmo grupo étnico ou racial.

Essa minha impressão não veio por acaso. Estava vendo as candidatas a Miss Universo 2008 e tentando adivinhar qual o país cada candidata estaria representando. Mas foi difícil! A canadense parece latina. A suíça parece brasileira (se bem que quase todas poderiam ser brasileira!). A sul-coreana não parece sul-coreana. As candidatas do Japão e da Dinamarca são mulatas. E por aí vai... Para quem acha que estou ficando maluco, confira nessa galeria de fotos do G1.

Isso é um bom sinal de que melhores tempos estão por vir. Os preconceitos étnicos e raciais perderão totalmente o sentido num futuro não muito distante. Infelizmente, fanatismos ainda estarão presentes, mas serão cada vez mais casos isolados. Ao olhar o próximo (e também o distante) se perceberá que seremos todos iguais fisicamente, apesar das diferenças culturais e lingüísticas. Mas é um bom começo.

Resta saber quem ganhará esse concurso de Miss Universo. Será a homogeneidade ou alguma candidata que represente o "padrão" de sua nacionalidade, como as candidatas da Holanda e de Chipre?

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Pastel chinês

Durante minha breve passagem por Macau, descobri porque muitos chineses que vêm ao Brasil acabam montando uma pastelaria. Confiram nesse vídeo amador que fiz perto da ruína da Igreja de São Paulo.


segunda-feira, 16 de junho de 2008

A hipocrisia do caso Varig


Não quero entrar no mérito de se o governo Lula agiu corretamente ou não ao interferir no caso da venda daquela antiga Varig moribunda em 2006. A questão é que estou achando muito hipócrita toda essa onda denuncista sobre a atuação do governo nesse caso. Em 2006, quando a imprensa noticiava a quase falência da empresa, o caso Varig virou motivo de comoção nacional. A empresa era vista como patrimônio do povo brasileiro, um caso de sucesso do empreendorismo nacional, e ninguém queria ver uma empresa como a Varig saindo do mercado, após voar com o nome do país para vários destinos nacionais e internacionais.

Naquela ocasião, todos pediam atuação do governo Lula para impedir uma eventual falência e extinção da marca Varig, como mostra a capa da revista Isto é acima. E pelo visto, o governo atendeu aos apelos da sociedade, facilitando a autorização da ANAC para compra da Varig pela Gol. E a empresa sobreviveu e continua transportando passageiros pelo Brasil e para alguns destinos no exterior, com o mesmo serviço e qualidade da antiga Varig (ainda bem que a Gol não substituiu aqueles lanches da antiga Varig por barrinhas de cereais e amendoins!).
Se o governo agiu de maneira correta ou não é outra questão. Mas acho muito hipócrita toda esse alarde e indignação com o caso Varig!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

"Prefiro preto a mulher"

A frase título dessa postagem foi pronunciada por Caetano Veloso no show Obra em Progresso da semana passada, logo após saber da vitória de Barack Obama como candidato democrata nas próximas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Apesar de Caetano admitir outras possíveis conotações a essa frase, ele quis dizer que prefere Obama à Hillary Clinton. Nesse contexto, também prefiro preto a mulher.

Desde o início dessa campanha, meu candidato é Barack Obama. A Hillary é simpática, mas é mulher de um ex-presidente. Caso vencesse as eleições, criaria uma espécie de poder hereditário nos Estados Unidos, representado pelos governos Bush-Clinton-Bush-Clinton. E isso seria algo que certamente decepcionaria Tocqueville. (Pensando agora, acho que é por isso que não tenho simpatias a Sra. Kircher, na Argentina. Democracia pressupõe alternância de poder e não há alternância quando mudam apenas as figuras e não os sobrenomes.)

Obama representa mudança (aliás, foi com esse slogan que conseguiu a nomeação para concorrer às eleições) em vários sentidos. A despeito de muitos analistas afirmarem que não se trata de uma questão racial, Obama é o primeiro candidato negro a concorrer à Casa Branca, e isso é uma novidade positiva para a democracia norte-americana. Ironicamente, acho que o que propiciou sua nomeação foram as gestões de Colin Powell e Condolezza Rice à frente da Secretaria de Estado no governo de George W. Bush. Com eles, o povo americano acostumou-se com negros ocupando cargos de primeiro escalão no governo.

A principal mudança, no entanto, é a novidade que Obama representa. Sua inexperiência política suscita dúvidas de como seriam os EUA sob sua administração. Suas propostas ainda não estão claras, principalmente em termos de política externa. Agora que Obama já é o candidato oficial do Partido Democrata, ele terá de apresentar propostas concretas capazes de convencer o eleitorado indeciso, já que muitas das posições do candidato republicano foram expostas enquanto os democratas ainda escolhiam entre a "mulher" e o" preto".

Agora sim a campanha eleitoral começará a ferver nos EUA. Os norte-americanos precisam de soluções para problemas como a crise econômico-financeira que o país atravessa e para o fracasso da ação no Iraque. E quem poderia imaginar que um mulato com o nome de Barack Hussein Obama seria a nova esperança da América? Ironia do destino!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Fé e ciência

E D-us disse...


... e houve luz!


Essa frase, que vi escrita numa camiseta (a fórmula é meramente ilustrativa), e a inauguração de uma exposição sobre Charles Darwin na semana passada em Brasília me fizeram refletir sobre a relação, ainda conflituosa, entre fé e ciência.


Na verdade, eu já estava pensando em escrever sobre isso desde antes de o Supremo decidir sobre a questão das pesquisas com células-tronco no Brasil. Felizmente, a Corte decidiu liberar as pesquisas, mas me entristeceu o fato de tal decisão não ter tido unanimidade entre os juízes. E isso me preocupa, pois o Supremo está prestes a julgar outra decisão supostamente polêmica que também envolve ciência e religião: a autorização ou não de aborto em caso de feto anencéfalo. Digo supostamente polêmica porque não entendo como juízes, e não médicos e cientistas, podem ter a pretensão de querer obrigar uma mulher a esperar os 9 meses de gestação para parir uma criança que viverá apenas por alguns minutos. Espero que os juízes que votaram pela liberação das pesquisas com células-tronco mantenham a sensatez nessa questão.


Mas voltando à questão principal: fé e ciência. À época em que as grandes religiões surgiram e se consolidaram, pouco se sabia sobre como o mundo havia sido criado ou sobre como o homem havia surgido. Na ausência de qualquer explicação, nada mais conveniente do que atribuir tudo isso à vontade de D-us. Com o passar dos séculos, a ciência progrediu, e, com ela, o conhecimento sobre os processos naturais e da humanidade. As religiões, no entanto, não se adaptaram a esse progresso científico de conhecimento do mundo. Preferiram, ao contrário, manter intacta sua visão sobre o mundo como forma de manter a legitimidade perante seus fiéis.



Um jornalista norte-americano, no ano passado, decidiu viver por um ano de acordo com todos os preceitos bíblicos. Deixou sua barba crescer, cumpriu todos os 10 Mandamentos, negou a evolução das espécies e se comprometeu a apedrejar todos aqueles que cometem ou cometeram adultério (felizmente, ele se limitou a jogar pedrinhas em apenas um). Sua decisão, bastante original, demonstra que as religiões precisam se adaptar ao mundo contemporâneo. Essa adaptação, sim, é necessária para dar legitimidade às religiões. Por que negar a existência de dinossauros quando testes com C-14 provam sua existência? Por que proibir o uso de preservativos quando milhares de pessoas morrem diariamente após serem contaminadas pelo vírus da Aids? Por que condenar a pesquisa com células-tronco quando inúmeras vidas podem ser salvas com as pesquisas com células embrionárias?

Fé e ciência não são incompatíveis. Ao contrário, o avanço da ciência é a prova de que D-us existe.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Um país sem irmãos

Com essa, já são 3 as postagens sobre a China. Provavelmente outras surgirão, pois muitas "algumas impressões" sobre aquele país ainda estão vivas em minha memória.

Conversando com uma guia turística em Xi'an, ela começou a falar de seu filho. Não me lembro exatamente sobre o que conversávamos, mas, de repente, faço a pergunta mais idiota que alguém poderia fazer a um chinês: "você só tem um filho?" Elegantemente, Lisa (esse é o seu nome ocidental) relembrou-me da política de filho único praticada na China desde a década de 1970. Mas gafes acontecem, até mesmo com presidentes da República... Minha gafe, no entanto, foi o gancho que Lisa precisava para me perguntar: "você tem irmãos?" Seus olhos brilharam quando respondi positivamente à pergunta. Acredito que, se dependesse apenas de sua vontade, teria mais algum(ns) filho(s). Preferi mudar de assunto.

A reação de Lisa me levou a conversar com algumas pessoas sobre os efeitos psicológicos de uma sociedade sem irmãos. Um é que, na ausência de um irmão de sangue, os chineses buscam criar laços fraternais com seus melhores amigos. Ou seja, "já que não tem tu, vai tu mesmo".

Um segundo efeito mostra como pode ser perverso essa política. Como os pais têm apenas um filho, eles querem que ele seja o melhor em tudo. Assim, querem que seu filho seja o melhor na escola, o melhor atleta da turma, que toque um instrumento musical de maneira virtuosa, que fale inglês como um nativo... São tantas exigências (e as atividades são postas em prática na tentativa de se atingir os desejos dos pais) que as crianças mal têm tempo para se dedicarem ao lazer. Eles têm, literalmente, compromissos de segunda a domingo. Salvo engano, em muitos casos, seus horários de lazer resumem-se a 2 ou 3 horas nas sextas-feiras à tarde.

Alguma recompensa os pais têm de oferecer a seus atarefados filhos. E a recompensa, talvez até por remorso, é o mimo.

O que mais preocupa as pessoas com as quais conversei (todas ocidentais) é sobre a futura liderança do país, que será comandado por uma geração de adultos mimados. Apesar de muito bem informados, terão pouco conhecimento de como o sistema realmente funciona, já que foram super protegidos pelos pais. É claro que muitos mimados chegaram ao poder no Ocidente. O problema é quando toda uma geração possui essa característica.

Em meio a tanta tragédia em decorrência dos terremotos na China, uma boa notícia: o governo relaxou a política de filho único e anunciou, nessa semana, que os pais que têm filhos feridos ou mortos pela tragédia poderão ter novo filho ou adotar quantos órfãos quiserem. Esses, a despeito do infortúnio, terão o privilégio legal de ter aquilo que muitos chineses possuem apenas em sonhos: um irmão.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Feriados


Corpus Christ foi o último feriado nacional que caiu em dia útil nesse ano antes do Natal. Todos os outros cairão no sábado ou domingo. Além disso, os 2 últimos feriados nacionais caíram numa quinta-feira, e muitos acabaram emendando a sexta-feira seguinte. Tudo isso me fez pensar que os feriados no Brasil deveriam ser objeto de discussão no Congresso Nacional.

Lembro-me de que, quando ainda estava na China, o governo consultou a população, em um raro momento democrático naquele país, sobre possíveis mudanças no calendário de feriados chineses, que, apesar de poucos, duravam uma semana inteira, causando transtornos em todo o país. Milhões de pessoas viajam ao mesmo tempo para visitar familiares em outras cidades ou como turistas.

Feriados no Brasil deveriam ser como a maioria deles nos Estados Unidos. Lá, os feriados são definidos de forma a sempre caírem numa segunda ou sexta-feira, permitindo um final de semana prolongado. Exemplos:
Memorial Day: última segunda-feira do mês de maio
Martin Luther King, Jr. Day: 3ª segunda-feira do mês de janeiro
Thanksgiving Day: 4ª quinta-feira do mês de novembro (nesse caso, os americanos também não trabalham na sexta-feira)

Só vejo vantagens nessa medida. Primeiro, concentrando os feriados antes ou depois do final de semana, não se corre o risco de as pessoas emendarem os feriados que caiam na terça ou na quinta, eliminando a chamada "semana morta" no Brasil. Nesse ponto, o mercado financeiro agradece.

Segundo: a indústria do turismo não perderia com eventuais feriados que caiam em finais de semana ou nas quartas-feiras. No segundo semestre desse ano, por exemplo, só viajarão aqueles que têm férias a gozar ou aqueles que não têm mais o que fazer da vida a não ser viajar mesmo.

Terceiro: ninguém precisará ficar olhando no calendário quando cairá, por exemplo, o feriado de Tiradentes, caso fosse determinado que esse feriado sempre cairá na 3ª sexta-feira do mês de abril.

O Carnaval merece atenção especial, pois, em partes, funciona da forma que eu gostaria que fosse. Mas não é bem assim, pois, apesar de cair sempre entre segunda e quarta-feira até o meio-dia, pode cair em qualquer semana entre o início de fevereiro e meados de março. Em 2008, esse feriado caiu logo na primeira semana de fevereiro, não muito depois dos feriados de Natal e Ano Novo. A indústria do turismo queixou-se com a redução dos lucros auferidos nesse ano durante o feriado, pois muita gente não conseguiu juntar dinheiro a tempo para programar nova viagem um mês após o Ano Novo. Para a vinda de turistas estrangeiros, a definição de uma data pré-determinada ajudaria a divulgar o evento fora do país, permitindo que os estrangeiros programem com precisão sua visita ao Brasil, de modo que coincida com a maior festa popular do mundo.

Caso essa sugestão fosse adotada no país, poderíamos, inclusive, diminuir o número de feriados nacionais. Para não desprestigiar nenhum homenageado, alguns poderiam cair sempre num sábado ou domingo qualquer, para que o feriado não seja extinto.

Será que a sociedade compraria essa idéia?

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O petróleo e a ordem mundial


A revista Newsweek da semana passada publicou em sua página 4 comentário de John Sparks e Stefan Theil sobre um possível cenário de quando o petróleo alcançar o preço de U$200/barril. Além do uso político dos lucros obtidos por parte de governos autoritários em grandes países produtores de petróleo, os autores indicam que a tese do "mundo plano", de Milton Friedman, poderia estar perto do fim. De acordo com essa teoria, a competição entre países desenvolvidos e em desenvolvimento está acabando, pois ambos teriam as mesmas oportunidades.

Num cenário onde o preço do barril de petróleo atinja a marca de U$200, os custos de transporte e energia tornariam inviável a produção de bens em países distantes dos grandes mercados consumidores. Assim, bens produzidos na China terão de ser majoritariamente vendidos na Ásia para que se mantenha a competividade desses produtos; os EUA terão de obter seus produtos no próprio continente americano, caso queira manter seu atual padrão de consumo.

As análises sobre o sistema internacional têm de ser constantemente reformuladas. Teóricos e estrategistas, ao desenvolverem suas idéias, tendem a analisar o processo apenas de maneira evolutiva. Mas o mundo não é lógico. Ou talvez seja, mas nós ainda não estamos acostumados em analisar todas as variáveis possíveis e (in)imagináveis. Não é por acaso que o mundo assiste, perplexo, à alta dos preços dos alimentos no comércio internacional.

As teses desenvolvidas pela CEPAL, durante a década de 1950, indicavam que haveria deterioração dos termos de troca entre os produtos exportados pelos países periféricos (matérias-primas) e entre aqueles importados dos países centrais (bens industriais). A solução para os países latino-americanos seria a substituição de suas importações, criando incentivos para o desenvolvimento da indústria nacional.

Passado mais de meio século, os bens industrializados são hoje os que relativamente vêm deteriorando em relação às matérias-primas. O preço dos alimentos e dos insumos tem registrado aumentos constantes nos últimos anos. Já os preços dos bens industrializados só tendem a cair, devido, em grande parte, aos avanços tecnológicos. Basta imaginar quanto custava um aparelho de DVD ou um celular há 10 anos. A boa notícia para as indústrias é que, para anular esse efeito, novas tecnologias são desenvolvidas diariamente, criando e impondo novas necessidades aos consumidores.

Veremos se o fim do "mundo plano" realmente ocorrerá. Provavelmente não, pois creio que a criatividade humana conseguirá manter, e mesmo acelerar, o atual processo de globalização. Talvez, no entanto, seja necessário atravessar um período de ajuste, em que as previsões de Sparks e Theil possam se concretizar, mesmo que temporariamente.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Natureza em fúria



Por mais trágico que seja, acho plausível um terremoto matar mais de 20 mil pessoas, ainda mais quando se trata da China, um país onde qualquer catástrofe natural toma gigantescas proporções, dada a quantidade de pessoas vivendo naquele país.

Impressiona-me, no entanto, um vento ser capaz de matar mais de 70 mil (!!!) pessoas, principalmente se considerarmos que a metereologia possui meios de prever esse tipo de fenômeno.

Confesso que ainda não consegui absorver o número de mortos, feridos e desabrigados em ambas as tragédias. A cada dia que vejo as estatísticas atualizadas, penso tratar-se de erro de digitação por parte do jornalista.

Que a Natureza dê uma trégua!

terça-feira, 13 de maio de 2008

1 dia em Pequim


Decidi transcrever as anotações que fiz na noite do dia 15 de dezembro de 2007, quando ainda estava em Pequim.

Entrei numa pequena loja num hutong, em Hou Hai, vi esse caderno para vender e pensei em começar um pequeno relato de viagem aqui na China. Nunca escrevi comentários nem observações sobre minhas viagens, mas minhas impressões desse país são tantas que tentarei registrar algumas nesse caderno, não apenas para recordação, mas principalmente para posterior reflexão.
Hoje eu e um amigo fizemos um tour em Pequim. Não definimos um roteiro específico; minha única idéia fixa era visitar o Mausoléu de Mao Tsé Tung, ou Mao Zedong, como preferirem. Pegamos um táxi - não fomos de metrô porque já era tarde, considerando que o horário de visitação do Mausoléu termina às 11h - e paramos em Tian'an Men, a Praça da Paz Celestial, onde o Mausoléu se localizada, mirando a Cidade Proibida e adjacente ao Parlamento.

A fila estava enorme, mas ainda tivemos de deixar nossas mochilas e máquinas fotográficas num guarda-volumes à esquerda da Praça (fotos são terminantemente proibidas no Mausoléu). Um chinês, em troca de alguns trocados, nos acompanhou ao guarda-volumes e, para se mostrar merecedor de módica gorjeta, nos ajudou a guardar nossos pertences na mochila e não hesitou em furar fula - prática recorrente na China - para que não perdêssemos tempo. Esse é o tipo de serviço VIP nesse país. Dei RMB10 ao cara, mesmo tendo pedido RMB20.

Entramos finalmente na fila, junto com outras centenas, talvez milhares, de chineses. A impressão que tive foi a de que, se cada mulçumano deve ir ao menos uma vez na vida a Meca, todo chinês deve prestar homenagem ao Chairman. Dá para perceber que são pessoas vindas de várias partes do país, muitas vestindo trajes bem simples, aparentando ter juntado dinheiro por anos para, um dia, vir a Pequim e homenagear o camarada Mao.

Passamos por um detector de metais. Nosso passeio quase teve de ser adiado, pois acharam que o celular do meu amigo era uma máquina fotográfica. De fato, o aparelho tinha esse recurso, mas nos deixaram seguir adiante.

Foi curioso me deparar, logo após a sala dos detectores de metais, já no pátio que dava acesso ao Mausoléu, uma banca que vende flores para serem depositadas ao pé da estátua de Mao, sentado de maneira descontraída, com a perna cruzada (não me lembro se a direita ou a esquerda), logo na entrada do Mausoléu. Não são poucos aqueles que fazem questão de comprar rosas avulsas ou buquês com flores diversas. Isso porque Mao é devotado como um santo pelos chineses, mesmo porque religião não é um forte na cultura chinesa atual, devido ao controle exercido pelo Partido Comunista desde a ascensão ao poder, em 1949. Não por acaso, mais de 40% dos chinese declaram-se sem religião. Há, no entanto, uma espécie de religião de Estado, sendo a figura de Mao seu mais poderoso e eficaz símbolo.

Essa questão da devoção fica ainda mais presente ao lermos uma placa logo na entrada do prédio, pedindo que os chapéus fossem retirados e que se faça silêncio no interior do Mausoléu. O mais impressionante é que os chineses obedecem a ambos os pedidos.

A visita é bastante rápida, pois não é possível parar diante do corpo de Mao, já que milhares de pessoas esperam na fila do lado de fora. No hall de entrada, formam-se 2 filas que dão acesso à sala principal onde está o corpo embalsamado do Chief, dentro de um sarcófago de vidro vigiado por 2 guardas do exército chinês.

Confesso que cheguei a duvidar se aquela realmente seria a múmia de Mao Zedong, pois a semelhança com aqueles bonecos de cera do Madame Tussauds é enorme. O mais impressionante é o excelente estado de conservação do cadáver. Li em algum lugar que o Mausoléu fica fechado por alguns dias do ano para manutenção do corpo.

Outra observação: foi a única vez que vi os chineses respeitando fila. Atribuo esse fenômeno à vontade de cada chinês estar o mais próximo possível de Mao e a fila ordenada permitia isso.

Logo na saída da sala principal, mas antes de sair do prédio, deparamo-nos com várias bancadas onde se vendia diversos objetos contendo a imagem de Mao. É interessante como os chineses absorveram tão rapidamente as práticas capitalistas. Na China, há bancas vendendo bugigangas até dentro de banheiros públicos. Qualquer museu, parque, praça ou templo (até mesmo dentro do Parlamento), há bancas vendendo souvenirs aos turistas, em sua grande maioria chineses.

Nosso próximo destino foi o antigo quarteirão onde estavam situadas as legações estrangeiras. Não há muito o que ver, pois grande parte dos prédios históricos foi destruído durante a Revolução dos Boxers, em 1900. Além disso, o que restou era idenficado apenas com placas em mandarim. Tive de me contentar com as informações do Lonely Planet. Como não me lembro dos detalhes, vou passar direto para Hou Hai, nosso próximo destino após uma rápida, porém estratégica parada para almoço.

Gostei de Hou Hai. Logo que chegamos, paramos para tomar um café no Starbuck's. Saindo de lá, não resisti e tomei um suco natural de romã, espremido na hora (bom!!!). Demos uma volta ao redor do lago parcialmente congelado, passando por um hutong, onde comprei esse caderno.

Para fechar o dia, fomos ao restaurante Li Qun, considerado um dos 10 melhores de Pequim, para comermos o famoso pato laqueado. O restaurante é um pé-sujo, também localizado dentro de um hutong. É o tipo de restaurante que eu nem passaria perto se não tivesse sido altamente recomendado por guias turísticos e por pessoas que já estiveram lá. Para se ter uma idéia do nível do restaurante, está pintado à mão, na parede do banheiro, a frase "no shit". Mas valeu a pena. A comida é realmente muito boa, melhor que o pato laqueado que comi logo na primeira semana que cheguei em Pequim, num restaurante "para inglês ver" em Wangfujin. Nesse restaurante para gringo, recebi um certificado com o número do pato que comi, contado desde o primeiro servido quando o restaurante foi aberto.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

O Blog

Sempre resisti à tentação de criar meu blog. Dessa vez, sinto que não posso mais me excluir desse universo de criação infinito que a internet nos proporciona. Todos temos algo a dizer, mesmo que isso não interesse a ninguém.
Acho que minha resistência de criar um blog deriva de dois medos. O primeiro é de ninguém se dar ao trabalho de parar alguns minutos para ler o que eu tenho a dizer. O segundo medo é de justamente não ter nada de interessante a dizer, nada de original, nada de criativo. Poderia acrescentar um terceiro item à lista, que não seria necessariamente um medo, mas sim curiosidade em relação às críticas aos meus comentários.
Acho que o sucesso dos blogs deve-se, em parte, à curiosidade em relação aos comentários sobre nossas impressões. Antes da internet, quem tinha algo a dizer poderia criar uma espécie de diário (acho que a palavra journal, em inglês, é mais apropriada). O problema é que esse tipo de material era (ou ainda é) feito para poucos, isso quando não se restringia somente à pessoa que o estava escrevendo. Difilcimente os journals eram comentados, a não ser quando veiculados pela imprensa escrita (confesso que não saberia citar nenhum agora; só Anne Frank vem à minha mente ). Mas com o blog é diferente. Ele fica armazenado nessa rede virtual anárquica, porém ordenada, onde qualquer pessoa pode ter acesso a pensamentos, críticas, comentários...
Foi por isso que me convenci a iniciar meu próprio journal virtual . Não sei se durará. Sei apenas que dei o pontapé inicial.
Sejam bem-vindos. Espero que gostem.